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O meu sótão é cor de rosa

Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista

O meu sótão é cor de rosa

Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista

Voz

 

 

Às vezes, oiço vozes. Vozes que se soltam na penumbra da noite, chamam por mim num gemido profundo, suspiram o meu nome. Há uma que se desprende das restantes, declara-se perante o meu olhar vago, inebriado pelas luz cálida que abraço ao seu surgir, numa madrugada que me parece não ter fim.

Embriago-me na subtileza de gestos que sussurram, de um corpo que não existe, ouço-o falar-me com uma clareza assustadora e eu pasmo-me no vazio do instante. Nego-me a mim e à voz que não consigo definir, fujo ao momento e vagueio por caminhos solitários num andar estonteante, pela perseguição do murmúrio que receio, mas anseio.

Sinto-me saltar por entre as gotas de uma chuva que cai sôfrega, parecem lâminas de um punhal que me rasgam as veias com destreza, dilatam-me os poros, fazem jorrar da minha pele o rubro que me bombeia o coração. É perturbador este pulsar vacilante que me atordoa e me faz cair no chão.

Deixo-me ficar estendida sobre o solo ardente e húmido, sinto o cheiro a terra molhada, absorvo o êxtase do aroma que me ajuda a levantar. Cambaleio descalça e seminua, prossigo na minha caminhada, agarro com firmeza cada luz que desponta nos atalhos mas a voz permanece obstinada e eu não quero, não quero, mas ela não me larga.

Desespero na procura de acordar do pesadelo mas a voz não me permite despertar, quer-me fantasma do meu próprio sono e persiste em ficar a meu lado como um espectro que se ordena a regressar, entra no meu corpo que desvanece aos poucos e se deixa levar.

Acordo desordenada por um adormecer agitado, escuto um bater de porta de um lugar que não é meu e desconheço, olho em redor e vejo uma janela aberta de par em par. Saio desnorteada do tumulto dos lençóis que adornam uma cama por fazer e olho-me através dos pedaços de um espelho quebrado que me acena.

Avisto uma sombra que não conheço e não tem rosto, pressinto a voz que se aproxima e ganha corpo, dono de duas mãos que me amparam de um desmaio e eu, no perder dos meus sentidos, pergunto-lhe quem é porque não vejo ninguém, pergunto-lhe quem sou porque não sei.

 


 

imagem retirada de: http://weheartit.com

por Leonor Teixeira, a Ametista

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por: Leonor T, a Ametista

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