O vazio dos lugares
Querido Duarte,
O meu amor adormecido despertou, o seu sono inquietou-se, o meu coração afligiu-se ao escutar, à distância, a melodia agridoce da tua voz.
Ausência, senti, uma vez mais como tantas outras nestes últimos quatro anos. Já não sei quem és, pensei, e perguntei-me que foi feito de ti porque não te reconheço. Eu, que esperei por ti todas as horas dos meus dias como se em algum momento fosses voltar. Procurei-te em todos os lugares, imaginei encontrar-te por aí, vi-te surgir nos atalhos.
Sabes? Era a minha ilusão de ver-te chegar a cada instante que me fazia acreditar que irias regressar. Mas tu não estavas. Nem aqui, nem ali, nem perto nem longe, nem em lado nenhum. Simplesmente não estavas.
Eu quis crer que era engano este meu sentimento tão imenso, quase inimaginável, cheguei a acreditar que era mentira este desejo imensurável de querer-te a meu lado, de poder respirar-te, de viver-te. Mas era verdade, era real, tão real que sentia a alma rasgar a cada pensamento de ti. E definitivamente tu não estavas, nunca estiveste. Silêncio, apenas silêncio. Perdi-te no silêncio do (re)encontro; (des)encontro.
Vêm-me à memória lembranças de nós, abraços sentidos e palavras de amor, gestos que não voltaram a repetir-se, jamais se repetirão.
...punhas as mãos na minha cintura, enrolavas-me no teu peito e dizias 'gosto de ti'. Eras tão bonito...
Fui lendo as histórias que retirei do baú de recordações, minhas e tuas, que guardei no tempo que foi nosso. Li e reli, inventei e imaginei, construí e revivi. Foram castelos de sonho que criei, desenhei-os na areia da minha praia mas levou-os o mar, o meu mar azul, em noites de tempestade. Amo-te, dizia baixinho a cada adormecer como se estivesses sempre a meu lado.
Hoje voltei a sentir o pulsar frenético do músculo que me permite respirar, foi intenso o seu disparo que abalou o seu compasso. Tarde, demasiado tarde. Vão, tudo em vão. As horas, os dias, os meses, os anos. A espera.
Quis devorar o mundo, a terra e os céus. Quis aniquilar este amor, esta paixão (sei lá) e renascer das cinzas. Deixei de saber quem sou e onde pertenço, perdi-me na turbulência dos sentidos e fugi de ti, de todos e de mim.
O sonho ruiu, o meu, de mim, de ti, de nós. Desmoronou-se, como um castelo de areia que se desfaz na maré vaza. E eu, em que me transformei? Em sombra, apenas em sombra.
Ficou vazio o teu lugar. E o meu.
Laura