Baloiço, tu que balanças ao vento sem mim...
... já não sei amar.
Perdi essa enorme capacidade, deslizou por entre os meus dedos sedentos de amor, ano após ano.
Sinto uma rocha no lugar do coração e nem sequer me importo. Eu, que amei toda a vida, que viver sem palpitações não era viver mas morrer devagar ou, simplesmente, existir. Eu, que sofria até à angústia mais profunda, num silêncio tão maior, por um amor não correspondido. Estava viva.
Já não me entristecem os desencontros, já não choro. Já nem sei o sabor de uma lágrima que cai pelo rosto até ao queixo trémulo, deixando para trás os lábios mudos.
Pego num cálice de vinho tinto, que não gosto, e brindo ao vazio do baloiço de jardim onde, vezes sem fim, oscilei. Brindo às histórias que lhe inventei e que secretamente lhe contei em serenos balanços, intermináveis.
Já nada nos une, a mim e ao baloiço. Nem as palavras, pois já nem sei ler, já não sei escrever.
Já não sei amar nem sinto nada.
Deixei de ser eu. Quem ficou no meu lugar, que não conheço, sem pulsar, sem escrever, sem baloiçar?
Baloiço, tu que balanças ao vento sem mim, esperas que volte para me contares os segredos que guardaste e eu esqueci?
imagem retirada de: google imagens