Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Não consigo dormir... os meus pensamentos são um turbilhão de emoções... Penso e volto a pensar... e não sei o dia de amanhã. O mais importante é a minha família e é ela que me preocupa a cada momento que passa. A minha avó está doente. A minha mãe é uma mulher de aço.... grande mulher... inquebrável ao longo de toda a sua vida. Caracterizo-a de mulher forte, sempre firme, com carácter e cheia de coragem. As minhas irmãs são diferentes. A minha irmã do meio, de personalidade vincada, mas pessimista perante a vida. A minha irmã mais velha, sensível e revoltada com o destino. Já eu, a mais nova, sentimentalista e rebelde. Mas todas com carácter, modéstia à parte. E a nossa postura mantém-se dia para dia, apesar da nossa vontade de quebrá-la tantas vezes. O nosso sofrimento presente está centralizado na minha avózinha, mas a minha maninha mais velha preocupa-me mais do que nunca. Mas eu acredito que o destino não a vai atraiçoar e o resultado do exame que fez ontem vai fazer com que volte a sorrir. Acredito plenamente que vai voltar a ver os espectáculos de música em lisboa, que tanto adora, e ver os jogos do benfica sempre cheia de entusiasmo. Deixá-la gritar com os golos do seu clube! No fundo, todas somos do benfica. Já vem dos tempos do meu avôzinho, que já não está entre nós. Desabafei, pronto! Estava a precisar. Amanhã é um novo dia. Mas não será somente mais um dia? Quem dera que fosse bem diferente. Com notícias cheias de esperança e que pudessem alegrar os nossos corações angustiados. Os corações das mulheres da minha família... O meu amor por todas vós é infindável...
Quando brincava com as minhas irmãs no quintal da minha mãe...
Até de ver as lagartixas passarem rente aos canteiros eu sinto saudades.
De me pendurar na nespereira (que já não existe) do quintal de cima e comer as laranjas e as tangerinas saborosas das árvores que ainda hoje estão lá.
Que saudades de me escapar para o olival acima do nosso quintal!
Trepar pela figueira que dava acesso à 'nossa pequena floresta' e esconder-me entre as árvores quando a minha mãe e a minha avó chamavam
por mim.
Que saudades do 'meu bosque'...
Saudades de saltar ao muro de acesso à casa do meu vizinho para jogarmos à apanhada.
De tantas vezes saltar, cheguei a partir a cabeça.
Saudades das peças de teatro que eu e as minhas manas inventávamos com as nossas vizinhas. A representação era no quintal e eu era sempre o gato, claro.
É o que faz ser a irmã mais nova.
Brincámos tanto no sótão das vizinhas às escondidas.
Saudades de saltar à corda e jogar ao elástico e à tardinha jogar ao monopólio e ao jogo das palavras (quando já éramos mais crescidinhas).
Saudades dos gatinhos que tivemos.
O quanto chorámos quando partiram...
Saudades das portas de casa abertas e de ir a pé para a escola sem medo.
Saudades do cheirinho da flor de laranjeira na Primavera...
Sei que não me lês... sei que não entras no meu espaço...
Por isso confesso que não te esqueci, amor da minha vida presente... Declaro aqui, neste meu mundo, que és tu que existes em cada momento imaginário do meu dia a dia. Finjo que ignoro a tua presença, finjo que me és indiferente, mas és tu que fazes parte dos meus sonhos... Sei que o tempo vai passar e nada vai mudar... Só queria aquela conversa que nunca tivemos e jamais teremos. E as palavras permanecem guardadas num cantinho de mim sem nunca poder proferi-las na tua presença. Nunca saberás o meu verdadeiro sentimento... aquele que nutro por ti... Resta-me esperar que o tempo permita que me liberte de ti... um dia... Mais ninguém conseguirá preencher o lugar que te pertence... Adoro-te a ti... Sê feliz...