Suave Recordação
Ainda hoje gosto de mergulhar nos lençóis onde, naquela noite, os nossos corpos se enlaçaram. Ainda hoje sinto as tuas mãos percorrerem o meu corpo na mais perfeita carícia, sinto que estás aqui a tocares nos meus cabelos. 'O teu olhar deixa-me assim...' disseste. Perdi-me no murmúrio da tua voz, entreguei o meu corpo ao teu, envolvi-me em ti.
Cai serena a madrugada, sinto-te do outro lado da cidade. Tocam três badaladas no relógio da torre da igreja, acendo um cigarro e escrevo para ti. O vento não sopra, há um cão que ladra ao longe e uma cigarra que persiste em acompanhar a minha solidão com o seu canto incessante. O meu imaginário vagueia pela varanda com vista sobre a cidade que dorme tranquila.
Volto para o vazio dos lençóis, têm o teu cheiro marcado. Elevo-me num sono encantado onde invento a fantasia que me embala num cenário de cetim. Estás aqui, sinto-o. Há uma concha que se cria no centro de uma cama por fazer. Somos nós.
Regresso à varanda envolvida num lençol, pétalas de rosa vão caindo no chão. A vista sobre a cidade ilumina-me o rosto, o meu corpo estremece pela perda do que não sei.
Há um outono a morar na minha alma.
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