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O meu sótão é cor de rosa

Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista

O meu sótão é cor de rosa

Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista

Desvarios de Verão

Ele surgiu despido de ausências, vestido de promessas, transbordando desejos incompletos. Veio, envolto em palavras por dizer, a sua pele cheirava a sal, partículas de areia cintilavam no seu corpo ardente como raios de um sol que nunca existira. Deixava transparecer a fantasia das mensagens guardadas para lá dos sonhos, onde tudo era surreal.

Naufragou no repouso absoluto do peito dela, ávido do seu encosto, beberam-se para lá de um crepúsculo estonteante, onde tudo se transforma e nada morre.

Foram para lá das marés, onde a terra cheira a chuva acabada de cair e nas estrelas está escrita a palavra amar. Os seus nomes ficaram gravados na lua que os acolheu, num céu onde o sono não mora e a tristeza é palavra proibida.

Risos e gargalhadas envolveram os momentos que agarraram com medo de que acabassem, mas o tempo parou no instante de um beijo demorado, talvez eterno, as horas deixaram de existir e a terra não voltou a girar.

- Queres voar comigo? Voar para lá do vento, entre o sonho e o que ficou por inventar? Queres descobrir comigo as cores do arco íris e pintar as nossas vidas de aguarela? - perguntou Duarte em palavras repetidas, proferidas por Laura num tempo distante.

Entregaram-se à mais tórrida das paixões, um misto de rubro e púrpura pintou o céu que encobria os dois corpos transpirados de saudade. Ao unirem-se no mais belo cenário de entrega, Duarte transformou-se em pássaro, Laura em sereia, respiraram-se por entre voos e mergulhos num cântico de uma beleza majestosa.

Um manto branco feito de cetim e madrepérola caiu de uma nuvem, cobriu o mar e amparou as ondas agitadas. Deitaram-se sobre ele, deixaram-se levar ao sabor da maresia, conseguiam escutar o bater frenético dos seus corações. Era urgente viverem-se por completo, era urgente amar perdidamente sem qualquer condição.

- Preciso de ti, deixa-me respirar-te, és a minha poesia... - Duarte fechou os olhos, quis adormecer naquele sonho, instante irrepetível do destino, permanecer pássaro até sempre. Quis agarrar aquele feitiço com a força que trazia bem presa às entranhas, aconchegar-se no colo da sereia que encontrara, construir um ninho.

Laura, porém, continha em si fragmentos de uma ilusão passada, pedaços de uma espera inacabada. Não conseguiu aninhá-lo, ondulou para lá dos oceanos, esqueceu-se que tinha coração, encontrou-se ao renascer sem alma numa aldeia de corais e não regressou.

Duarte chorou ao abandono num gemido ininterrupto, o seu lamento estremeceu as nuvens, as estrelas caíram, o sol colidiu com a lua, o céu desabou e o mar invadiu a terra.

Quebrou-se o feitiço. Um pássaro não chora a perda de uma sereia, não aquela que outrora fora ora menina inocente ora mulher sem rumo, que esperou por ele uma vida inteira sem sentido e que acabava, agora, de partir.

As quatro estações deixaram de existir. Ficou apenas a sombra de um último Verão, perdido no tempo, onde o amor e a paixão se juntaram na mais sublime das paisagens, para se perderem de seguida e fazerem desvairar o mundo.

Não ficou ninguém para contar, apenas um corvo esvoaçou durante séculos sobre o que restou da terra, rindo até à eternidade através do seu canto negro, quase poético.

 

 

(Texto fictício escrito para a Fábrica de Histórias)

por Leonor Teixeira, a Ametista

Fins de tarde na praia

 

13 de Julho de 2010. 20,36h.

 

O sol desponta depois de uma tarde com nuvens de cores mórbidas que pintaram o céu e se reflectiram na areia, escondendo um azul quente e melancólico.

Admiro a paisagem da janela da casa de praia, avisto um barco que passa em mar alto. Consigo velejá-lo, absorvo a baía que fica para trás. Bebo o iodo espalhado na praia, bebo-o até à exaustão.


 

23 de Agosto de 2010. 17,30h.

 

Esta noite, adormeci ao som das ondas que tocavam a areia suavemente. Era doce o seu bater, iam e vinham, iam e voltavam a vir e eu senti o sono chegar devagarinho, tão devagarinho que quase senti tocar o fundo do mar. E ondulei, ondulei na sua profundez, senti-me com guelras e consegui respirar. Para lá da superfície, a terra tornou-se longínqua.

Não tenho vontade de regressar. Quero continuar neste sono tranquilo que me toca a alma na mais perfeita candura.


 

26 de Agosto de 2010. 16,45h.

 

Há algo que me sustém para além da brisa do mar. O vento vindo de sul traz consigo gotas de chuva tão delicadas que me permitem ficar aqui, sentada na areia que vai aquecendo à medida que o dia vai deixando um rasto de frescura. O barco volta a passar e eu sinto-me navegar.


 

29 de Agosto de 2010. 19,20h.

 

O rio de saudade que desagua no mar corre-me nas veias e prende-me aqui, a esta concha que é parte de mim. Não quero ir, quero ficar.

Deixo para trás um sonho antigo e regresso às origens. E o meu sangue chora, mas vai conseguindo estancar.

 

 

por Leonor Teixeira, a Ametista

por: Leonor T, a Ametista

img1514942427922(1).jpgo outro lado do sótão

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comentários arrecadados

  • Ametista

    Querido Cúmplice, Obrigada por passares pelo meu s...

  • cumplicedotempo

    De acordo com tudo o que disseste, e mais encantad...

  • Ametista

    Querida Green,Obrigada por passares por aqui.. É s...

  • green.eyes

    Querida Leonor,É sempre um prazer ler um texto teu...

  • Ametista

    Obrigada.. desculpe o tardio da resposta. Sabe? Já...

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