Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Há em mim uma sede insaciável de dançar a música mais doce e enlaçar o meu corpo no teu num silêncio que suspira. Na rua, ao sol, ao vento, à chuva mas dançar contigo e escrever a palavra amar em todos os lugares, marcar no chão que piso a nossa sombra.
Quero deixar espalhadas por aí as lágrimas de um coração que transborda de paixão, aquela que rasga o peito como um punhal e faz libertar os sentidos mais profundos.
Quero gravar no meu sangue o teu nome como uma tatuagem eterna. Perder-me na tua essência e respirar o teu ar como num último sopro de vida.
A vida ironiza o meu fado com instintos de malvadez, obriga-me a beber desse veneno que me ofereces, mas eu afasto-me e recuso beber uma gota sequer, iria matar-me lentamente e eu não quero morrer devagar.
Não quero fazer parte da mesma história, aquela que me fez bater no fundo mas que me ajudou a subir à tona. Pareces trazer reencarnado em ti aquele que deixou no meu caminho um ponto e vírgula, pendurado num espinho escondido na rosa que um dia me deu.
Sinto-te fantasma de um passado que me dilacera a alma, consigo escutar ao longe gargalhadas que mais me parecem ser um verdadeiro acto de bruxaria.
Não, eu não vou permitir que me rasgues as entranhas, não vou deixar-me manipular por esse olhar enganador.
Quem és tu para entrares assim vindo do nada? Não sei quem és nem de onde vens, mais me pareces um qualquer estranho incoerente, contradizes-te através de atitudes impulsivas que tentas encobrir, consigo sentir uma certa obsessão que se mistura com um receio gigantesco e indecifrável na adoração que me confessas. Tento entender mas não consigo, juro que não consigo.
És astuto, envolves-me na tua teia subtilmente e eu sigo-te como um fantoche que manobras e aprisionas, como que num disfarce que vou desmascarando e fujo a tempo.
Porquê eu? Eu, que acredito nas palavras e em sorrisos. Sabes? Há sorrisos que se inventam mas o olhar não engana. Não sei o seu verdadeiro significado, ainda hoje me pergunto o que quer dizer esse olhar que umas vezes se entrega ao meu por completo, outras se distancia sorrateiramente por entre actos de cobardia.
Maldito mau presságio que me persegue, chego a crer que ele existe por bondade para que consiga detectar, enquanto é tempo, o que poderia desgraçar a minha vida.
Quero gritar mas não consigo, o grito está contido algures na minha alma que chora compulsivamente, mas as lágrimas não brotam do meu olhar que reflecte mais uma ilusão perdida, total desengano meu.
Afasto-me simplesmente, passo as noites em claro a pensar onde é que errei, pergunto ao destino a razão das incertezas, não ouço respostas mas consigo imaginar os risos sarcásticos de quem amei.