O destino das palavras
(Foto de minha autoria tirada em Julho de 2010 na praia de São Martinho do Porto)
Eu queria esconder as palavras que deixei perdidas no recanto das memórias, guardá-las onde dormem os tesouros, arrecadá-las bem no fundo das marés. Eu queria esconder cada palavra que escrevi, fugir com todas elas no meu colo, enterrá-las num pedaço deste chão, embebê-las na frescura das areias.
Eu queria arrancar todas as letras das histórias e poemas que inventei, escondê-las nos lugares onde ninguém mora, longe da procura de quem lê, longe dos encontros de quem espera, num cantinho bem perto do sol.
Eu queria rasgar cada momento, esmagar as cicatrizes do meu tempo, ajoelhar junto às baías e rezar, pedir ao céu e à terra que me trouxessem a raiz do esquecimento para plantar. Eu queria pintar a minha estrada de arco-íris, apagar o cinzento das veredas, quebrar o gelo e as sombras do vazio.
Eu queria ser navegante e remar em alto mar, embarcar em silêncio sobre as ondas numa dança esvoaçante e intemporal.