Consegues ouvir-me? Já não espero por ti.
Consegues ouvir-me? Estou aqui, à tua espera, como um pássaro que baloiça na ânsia de um canto de voos leves.
Consegues ver-me? Estou aqui, no meio do tempo, à espera que o passar dos anos me faça chegar até ti.
Consegues sentir-me? Estou em todos os lugares, procuro-te onde não estás e danço no esconderijo onde guardámos os nossos sentidos.
Abro a janela do meu recanto de par em par, acendo um cigarro e contemplo a noite num silêncio.
O balançar das folhas nas árvores faz-me acreditar no que de tão imensamente belo as estrelas têm para me contar. É nelas que deixo o sinal da minha espera, segredo-lhes memórias, descrevo histórias, pincelo sonhos.
Acendo uma vela, a minha voz perde-se num eco mudo e eu choro o que não vivi.
Quero esquecer-te. Quero esquecer-te no cair das chuvas.
Aprisionas-me as palavras e eu?, deixo-as cair no abismo dos meses seguintes. Tanto que tenho para dizer-te, meu amor desamparado. São doces, as palavras, mas sufocam na angústia que carrego antes da minha luta pela liberdade. E eu esqueço-as, fogem-me da memória, como perco a lembrança de ti noutras estações.
Sim, quero esquecer-te. No regresso dos ventos e na revolta das marés.
Quero arrancar-te da minha pele, expulsar-te da minha alma com a força dos meus gritos que se soltam. E, ao lembrar-te, avisto um lugar em ruínas sem morada assinalada, sombrio e sem rumo, como os Outonos que vivi com a tua ausência.
E esqueço-te.
Afasto de mim o teu fantasma e largo-te na estrada. É fria e cheia de nada, como a que percorri nos Invernos em que te amei. Lembras-te?
Pois, mas esqueço-te finalmente. Abandono-me de ti e, na partida, levo comigo a serenidade das Primaveras e o calor dos Verões que trago no corpo.
Estou de alma plena, vazia de ti, neste doce amanhecer de estrelas cadentes.
E já não espero por ti.