Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Gosto de ouvir o tic tac do relógio de parede no silêncio dos fins de tarde. Gosto de olhar para os ponteiros e pensar que estou junto à torre Eiffel, de mãos dadas com um anjo.
Gosto da luz fosca do candeeiro de rua que entra suavemente, por entre cortinados de cetim, num quarto de hotel em Paris.
Gosto de ouvir a chuva bater nas pedras da calçada, de vê-la brilhar no asfalto, senti-la a cair-me no rosto. Gosto da neve que não vejo mas imagino, de tê-la nas minhas mãos e patinar numa pista de gelo.
Gosto. Gosto das coisas simples, muito mais do que gosto de ti, tanto que já não sei se te lembro, apenas sei que não te lembro como dantes.
Gosto de não saber se te lembro, mas gosto ainda mais de saber que em parte te esqueci.
Gosto de ver os ponteiros do relógio a andarem, significa que a vida não morreu. Mas gosto de inventar que param num qualquer instante, sempre que o sol ou a lua entram no quarto onde durmo, seja em que lugar do mundo for.
Gosto de saber que te lembro pouco, muito pouco e pergunto-me se ainda sei do teu sorriso, porque do teu olhar apenas sei a cor.
Gosto do som do suspiro, aquele que vem do alívio de saber que já não estás no despertar que descubro e no adormecer que fantasio.