Saudades tuas, Eddie
Meu querido Eddie,
Tenho saudades tuas. Tantas.
Desculpa se foste para uma família melhor. Tenho medo de não te esquecer, eras a minha outra metade, o meu guarda, meu fiel companheiro. Mas deixei-te por um lugar que te fizesse mais feliz. Aqui, sentia-te triste e revoltado. Por muito amor que te desse, não era o suficiente, não tinhas a liberdade que merecias.
Continuo a amar-te e a imaginar-te, lindo e traquina, a brincar com as bolinhas e o osso que tu tanto adoravas e a enroscares-te, de noite, nas tuas alcofas e almofadas que tanto te aconchegavam. Não houve uma noite que não me levantasse para tapar-te com as mantinhas que mordias nos fins de tarde. Eras tão friorento.
Lembras-te das nossas brincadeiras? Aquelas escadas têm tanto para contar. Parecias um cavalinho a rodopiar nas tuas danças com os teus brinquedos no terraço. E na cozinha? Recordas-te? Estavas sempre comigo e, às refeições, pedias-me bocadinhos de maçã que tanto ansiavas. E pão. Gostavas tanto de pão. De manhã, presenteava-te sempre com os teus biscoitos, meu guloso.
Na sala, eras o destruidor de almofadas mas dormias tantas vezes aos meus pés. Querias explorar a casa toda, mas fazias tantos disparates. Corrias sem parar, se conseguisses escapar-te para sítios proibidos, e eram tantas as tuas travessuras.
Tinhas tudo, mas faltava-te tanto. Amigos para brincar, sítios novos para conhecer, outros cheiros para sentir, terra inacabável para correres sem parar. Eu tinha de deixar-te ir.
Sabes que a minha saúde me trai, por vezes, e se me acontecesse alguma coisa quem iria tomar conta de ti? Só quis o teu bem, meu querido. Dói tanto viver sem ti.
Por vezes encontro pêlos teus, um aqui outro ali, e lembro-me o quanto te abraçava quando saltavas para o meu colo para veres a cidade e, quando me sentias triste, envolvias as tuas patinhas em redor do meu pescoço e beijavas-me sem parar. O teu olhar era transparente e acalentavas a minha alma com a tua doçura. No outro dia encontrei, por acaso, coisinhas tuas e o meu coração encolheu-se, apertado. Quando chegaste aqui eras tão pequenino. Cresceste tanto, ficaste grande e robusto. És tão bonito.
Sei que estás bem, espero que me esqueças para não sofreres. Estás com pessoas que te amam desde o primeiro momento em que te viram e com quem foste, sem olhares para trás. Para sempre.
A tua nova dona disse-me para ir visitar-te em breve, mas tive medo. Tenho medo. Medo de ver-te, de correr para ti, abraçar-te e não conseguir largar-te. E tenho medo por ti. Medo que te lembres de mim e fiques triste.
Recordo-te a cada dia, a cada hora, a cada momento. Ainda há pedaços de ti por este chão, memórias infindáveis que me corroem por dentro. Fotografias, vídeos, lembranças. Deixaste um vazio que me despedaça a alma. Choro todos os dias. Fazes-me tanta falta, meu querido.
Foste tão amado. Mas o importante é que sejas feliz, o resto não importa. E não te abandonei, juro que não te abandonei. Simplesmente consegui uma família completa para ti. Nós éramos apenas tu e eu. Agora, és tu e muitos mais. Mudaram-te o nome, agora és o Salvador, porque salvaste alguém que perdeu um cãozinho de uma vida e esperava por ti sem saber que serias tu. Não há dia nem noite que não te peça desculpa. Sei que não me ouves, mas talvez saibas o que sinto.
Meu querido Eddie, a minha saudade é infindável. Sem ti, morreu uma parte de mim, ficou um vazio que não consigo preencher. Quem sabe um dia, mais tarde, bem mais tarde, não nos encontraremos e damos um abracinho apertado? Sei onde moras e quando a dor e o tempo passarem, irei visitar -te.
Até lá e apesar de ausente, amar-te-ei. Amar-te-ei sempre. Porque tu, meu querido, eras a minha luz ao fundo do túnel, o meu puro amor.
Apagou-se a luz, o meu coração está pela metade, a minha alma está vazia. Espero que me perdoes. Até um dia qualquer, meu amor.