Perdas materiais
Há muitos anos, fui passar férias à Póvoa de Varzim com a mana e um grupo de amigos. Ficámos em casa de uma pessoa conhecida que morava perto da praia, no rés do chão de um prédio na avenida principal. Depois de uma noite de folia, acordei no dia seguinte e resolvi lavar a roupa que tinha usado bem como os ténis. Lembro-me que eram uns puma brancos que eu adorava e que, por sinal, se encontravam um tanto ou quanto sujos, não fossem as pisadelas que havia levado na discoteca. Depois de lavá-los, coloquei-os no parapeito da janela da cozinha que ficava virada para a avenida. O dono da casa, ao reparar no que que eu acabara de fazer, alertou-me para retirar os ditos ténis dali porque poderia passar alguém e roubá-los. Eu, incrédula, levei o aviso para a brincadeira e deixei-me ficar sentada no sofá da sala enquanto aguardava que as sapatilhas secassem. Como o calor era muito, dali a pouco tempo fui à cozinha e olhei através da janela. Abri a boca e soltei um 'não acredito!' que chamou toda a gente da casa para junto de mim. Os meus ténis favoritos não estavam lá! Tinham sido roubados! Quase chorei ao ouvir o meu amigo dizer 'eu avisei-te!'. Era tarde demais e nada havia a fazer a não ser lamentar o sucedido. Não ia conseguir recuperar os puma, por isso não adiantava chorar sob o leite derramado. Sim, porque a culpa tinha sido minha por não ter dado ouvidos ao meu amigo.
Como se não bastasse, no dia seguinte fomos à praia e decidi levar uma saia branca com flores às cores que eu adorava, tanto como aos ténis perdidos. Por cima da saia, uma camisola comprida. No final da tarde, depois de um dia de areia e mar, fomos à esplanada da praia comer um petisco e beber umas cervejinhas. Lembro-me de colocar a saia nas costas da cadeira e de ficar apenas com a t-shirt vestida, para que o sol queimasse as minhas pernitas magritas. A alegria era tanta que, depois de uma cervejinha, vai mais uma rodada e assim sucessivamente. Risada para aqui, gargalhada para acolá, foi-se aproximando o por de sol. Levantámo-nos e, de toalhas ao ombro, fomos em direcção a casa para nos prepararmos para jantar fora. Senti-me vazia, faltava-me algo. A saia! Onde estava a minha saia?
No dia seguinte, antes de irmos para a praia, fui perguntar ao senhor da esplanada se havia encontrado uma saia que, eventualmente e provavelmente, ficara nas costas de uma cadeira. A resposta foi 'não, menina'.
Chorei como uma criancinha mimada e os meus amigos ainda se riram de mim!
Em poucos dias, numas belas férias, perdi uma saia e um par de ténis. Inacreditável!
Culpa minha, claro! Só não perdi a cabeça, porque estava agarrada ao pescoço.
(Texto baseado em factos verídicos para a Fábrica de Histórias)