Encontros e desencontros
Cruzo-me contigo pelas ruas da cidade. Passas apressado numa condução veloz, ligas as luzes de emergência e fazes soar o alarme. Salvas vidas, extingues incêndios, ajudas crianças a nascer em plena viagem. Há pessoas feridas que te deixam uma palavra de apreço e lavas-te em lágrimas por uma perda humana. Sais à pressa para mais um incêndio e eu vejo-te partir com furor. Permaneço na esperança de que fiques a salvo, mas tu não sabes que rezo por ti.
Combates as chamas que lavram as matas, incendeias a alma por entre o arvoredo que teima em queimar. Salvas do fogo animais perdidos que te lambem o rosto em sinal de gratidão.
Regressas exausto de mais uma luta e soltas um sorriso para ninguém perceber. Observo-te através da vidraça e vejo-te conversar com pessoas encontradas ao acaso. E eu estou ali, tão perto de ti, mas tu não sentes a minha presença. Contemplo-te num disfarce veloz na esperança de alcançar um sinal, mas tu não me vês. Vou até junto de ti, mas quando chego está apenas o lugar que deixaste ficar.
Cruzas-te comigo pelas ruas da cidade. Passas por mim no teu andar compassado e aprontas-te para mais uma batalha. Os nossos rostos encontram-se, trocam-se os olhares, mas nenhum de nós pára para estender a mão. Quero aproximar-me, partilhar a minha vida com a tua, mas há uma distância que nos separa. Imagino o que poderíamos ser e as palavras ficam guardadas em silêncio. Sei quem és, mas não sei o que sentes. Sabes quem sou, mas não me conheces.
(Texto fictício escrito para a Fábrica de Histórias)