Perdida
Descrição de um sono onde habita o surreal.
Cruzo-me comigo mesma por entre caminhos assombrados. Em cada um deles uma imagem, um ruído. Percorro espaços estreitos vezes sem fim. Em cada esquina, braços estendidos tentam alcançar-me. Vozes em uníssono fazem soar o meu nome. Risos sarcásticos ouvem-se ao longe, gargalhadas repetidas por entre muros erguidos do vazio. Gritos doentios ecoam sem parar, rostos alucinados cruzam-se à pressa por entre a escuridão. Surgem fantasmas de todos os lados, silhuetas disformes chamam por mim.
Perco o rumo, esqueço a minha identidade. Estradas sem saída, direcções cruzadas por entre o desconhecido. Perco-me do mundo, entro em delírio e atravesso o labirinto repetidamente, sem parar. Uma sombra vinda do nada acena-me num adeus incessante. Não sei quem é, não sei o seu nome.
Paro, exausta. Respiro ofegante e estendo-me no chão frio num completo desvario. Adormeço num sono agitado. Passam as horas, os dias, os meses. Os anos ficam suspensos num passado ignorado. Memórias em branco perdidas aqui e ali, num lugar qualquer que não existe.
O meu corpo esguio mantém-se inerte à espera de luz e silêncio. E o tempo corre veloz.
Muito tempo depois, tanto que não sei quanto, um pedaço de sol desponta por entre as nuvens que ofuscam o labirinto.
Encontro a saída e descubro um mundo novo.