Às vezes
Às vezes, sinto medo.
Medo de não ter tempo. Tempo para viver a minha história, aquela que inventei para mim.
Não tenho medo da solidão, porque nunca estarei completamente só. Há anjos que me envolvem a alma, há uma imensidão de palavras que me rodeiam e vou voando por entre o meu imaginário.
Mas, mesmo assim, por vezes sinto medo. Medo de não conseguir voltar a encontrar-te. Medo de não poder dizer o que está guardado num baú cheio de ti, onde habita a tua imagem, onde mora o que não chegaste a ser.
Mas, às vezes, sinto esperança. Esperança de voltar a ver-te, sentir-te perto, de olhar-te nos olhos, poder tocar o teu rosto, de abraçar-te.
Outras vezes, tudo se desvanece. O medo e a esperança. Deixo de ter medo, mas foge-me a esperança. E embrulho-me num misto de verdade e mentira, numa contradição de ter medo e não ter, de ganhar esperança e perdê-la.
Tantas outras vezes me pergunto o que fomos noutra vida, o que nos separou e o que nos fez reencontrar. E não há respostas, mas existem os sentidos. Sentidos que me fazem acreditar às vezes e, outras vezes, desacreditar.
Por vezes, anseio ir ao teu encontro. Umas vezes, o vento empurra-me para trás e não me deixa prosseguir. Outras vou em direcção a ti mas, quando chego ao teu lugar, acabaste de partir.
Às vezes choro, outras tantas rio. Às vezes falo e outras fico calada. E tantas vezes escrevo para ti, tantas vezes grito por entre palavras vãs. Tantas outras me deixo ficar na dança do meu silêncio.
Tantas vezes, quase todas, perco o tempo a pensar em ti e tantas outras me perco no tempo por um pensamento de ti.