Fins de tarde na praia
13 de Julho de 2010. 20,36h.
O sol desponta depois de uma tarde com nuvens de cores mórbidas que pintaram o céu e se reflectiram na areia, escondendo um azul quente e melancólico.
Admiro a paisagem da janela da casa de praia, avisto um barco que passa em mar alto. Consigo velejá-lo, absorvo a baía que fica para trás. Bebo o iodo espalhado na praia, bebo-o até à exaustão.
23 de Agosto de 2010. 17,30h.
Esta noite, adormeci ao som das ondas que tocavam a areia suavemente. Era doce o seu bater, iam e vinham, iam e voltavam a vir e eu senti o sono chegar devagarinho, tão devagarinho que quase senti tocar o fundo do mar. E ondulei, ondulei na sua profundez, senti-me com guelras e consegui respirar. Para lá da superfície, a terra tornou-se longínqua.
Não tenho vontade de regressar. Quero continuar neste sono tranquilo que me toca a alma na mais perfeita candura.
26 de Agosto de 2010. 16,45h.
Há algo que me sustém para além da brisa do mar. O vento vindo de sul traz consigo gotas de chuva tão delicadas que me permitem ficar aqui, sentada na areia que vai aquecendo à medida que o dia vai deixando um rasto de frescura. O barco volta a passar e eu sinto-me navegar.
29 de Agosto de 2010. 19,20h.
O rio de saudade que desagua no mar corre-me nas veias e prende-me aqui, a esta concha que é parte de mim. Não quero ir, quero ficar.
Deixo para trás um sonho antigo e regresso às origens. E o meu sangue chora, mas vai conseguindo estancar.