Fazes-me falta
Amo-te acima de todas as coisas, mas sinto-me amarrada a um abandono extremo que me rompe as entranhas. A minha alma está despedaçada, quebrou-se ao perder-te à chegada, tu que surgiste no meu caminho sem o destino avisar, tu que me fizeste acreditar que vale a pena esperar pela entrega no seu todo e vivê-la soberbamente porque, disseste-me tu, temos todo o tempo do mundo. Lembras-te? Tu, sim tu, que estás aí do outro lado da ponte que nos separa, tu que me ensinaste a crer que existe uma estrada colorida que nos espera, tu que te repetes no adjectivo linda e te declaras por entre as letras daquele verbo que conjugas na perfeição, me toca na sua profundez e me acelera o coração. Aquela palavra, adoro-te, que é a mais bela de todas as palavras e que eleva todos os sentidos.
E agora estou aqui, perdida na minha embriaguez de viver-te por completo, de tocar a tua pele, de ter-te a meu lado e ficar assim, suspensa num mundo que não é o meu e aqui permaneço, viva para ti, no lugar que é teu mas sem rumo à vista, eu que tanto te choro. E questiono-me, pergunto aos mestres da sorte e do infortúnio, donos dos mistérios da vida a razão deste lamento que me corta o ar e, ao mesmo tempo, me obriga a respirar a todo o custo porque és tu quem quero, és tu que me preenches ou, já nem sei, se não serás a razão deste vazio que tomou posse de mim, da angústia que bateu à minha porta e entrou de rompante sem pedir licença.
O cinzeiro transborda de pontas dos cigarros que já fumei, as garrafas de vinho estão vazias, quem dera que fosse por um brinde entre nós mas que não aconteceu. Afogo-me na tentativa de afastar de mim este engano mas não consigo esquecer que existes, não consigo esquecer o teu nome. E dói-me, dói-me sentir-te por perto e não poder abraçar-te, é uma dor quase insuportável, é como morrer devagar com o remédio mesmo a meu lado e não conseguir alcançá-lo mas não há mais nada que possa minorar este mal, não há nada a fazer. Nada.
Arrancaram as asas da minha libertação, sinto-me prisioneira de um amor morto à nascença, vagueio sem rumo e consigo avistar um túnel mas não tem luz, é escuro como breu, não alcanço mais nada para além de uma lacuna e não há saída. É como estar perdida num labirinto, despida de amor próprio, completamente nua e conseguir ouvir a tua voz ecoar sobre o meu corpo frágil e a rasgar-me ainda mais a alma ferida.
Fazes-me falta. E eu quero gritar e não posso, preciso de gritar e não consigo.
imagem retirada de: http://photobucket.com/