(Des)encontro de Almas
Eu queria falar de almas e de encontros, aqueles que se dão por capricho do destino. Acredito que as almas se cruzam porque têm um passado em comum, vindo de outros tempos, e algo ficou por revelar ou resolver.
Por vezes dou comigo a pensar que alma gémea há só uma mas, sempre que acredito que a encontrei, perco-a de seguida e fico sem saber a razão e questiono-me se seria mesmo aquela, a tal.
Depois de tantos (des)encontros ao longo de uma existência repleta de incertezas, chego a crer que as almas gémeas se encontram no cruzar das vidas. No intervalo, aquele que existe entre a vida e a morte.
Aí sim, nesse lugar, onde o vazio se preenche do que não sei e se transforma num instante impossível de recordar, onde nada existe mas tudo acontece. É o encontro das almas que se dá, num momento imensamente puro, em que dois corações bailam na palma de duas mãos que se desconhecem e se tocam sem saber porquê. Misterioso, mas glorioso. Os corações saltam do peito e entregam-se no mais sublime acto a que não se consegue assistir, apenas se permite imaginar.
Lágrimas rubras soltam-se em forma de nuvem, no mais profundo dos silêncios. Há tanto por descobrir. Quem fui, quem vou ser, onde estive, para onde vou, com quem. É um não sei que se inventa e que se cria, onde sou tudo o que queria ter sido e nunca fui. E volto a perguntar-me porquê. Talvez porque não consegui ou porque o destino não permitiu.
É um turbilhão de emoções, vivido num sono tranquilo mas inconstante, onde as perguntas dão lugar a respostas e as mesmas se duvidam entre si numa encruzilhada interminável.