O rio que sonho
Pedi ao rio das memórias que corresse a meus pés e me deixasse ficar junto às bermas, onde acabam as ausências. E tu vieste até mim.
Trazias contigo retalhos de um lugar onde as palavras ficaram, embebidas nas lagoas do tempo, esquecidas pela demora das angústias.
Vieste, despido de encontros, transbordavas emoções do que não viveste e confessaste-te no silêncio dos atalhos.
Colheste uma flor do meu jardim e enfeitaste os meus cabelos, sentiste o aroma a Primavera que disfarçou o Inverno, ajoelhaste diante de mim e disseste:
'Voltei para ter o teu perdão ou morreria no vazio dos desertos, sem letras e sem sentidos e onde tudo acaba em solidão'.
Acordei de um sonho. Estava sentada na berma de um rio que corria a meus pés. Ao longe, um deserto envolvia um lago azul onde palavras repetidas dançavam nas areias.