A Laura voltou
Encontrei a Laura na outra noite. Disse-me que voltou para ficar. Contou-me do sótão que encontrou para morar, com vistas fantásticas de todas as janelas e com um terraço enorme de onde vê o céu sem obstáculos. Disse-me que o jardim, uns degraus abaixo, parece um bosque encantado à noite e que, de manhã cedo, cheira a campo.
Acho que a Laura encontrou o seu lugar, para se libertar de todos os fantasmas, e que ali sente paz.
Já não via a Laura há alguns anos e sabia que tinha partido para longe, no esquecimento de um amor que nunca chegou a acontecer. Pensei que nunca mais voltasse. Mas enganei-me. Regressou mais forte do que nunca e de sorriso aberto. Só senti a falta de um brilho no olhar. No entanto, a vida fez-lhe ver e acreditar de que há coisas mais importantes do que o amor a alguém. A paz, a tranquilidade, os cheiros das árvores e dos seres que envolvem os quintais, da água que sai da mangueira para regar a relva seca, do silêncio da noite e das estrelas. Afinal, tudo isso é amor, amor ao que realmente lhe importa. E assim se recuperam as asas perdidas de um pássaro que, há muito, deixou de voar.
A Laura disse-me que encontrou o campo na cidade, mas que ninguém sabe, ninguém conhece e que, às vezes, tem medo da solidão mas passa quando vê as igrejas iluminadas e o castelo pelas janelas. Disse-me, também, que em noites de lua cheia tudo se torna mágico.
A única saudade que tem é de fazer parte das histórias de encantar. Espero que volte a ser personagem dessas histórias.
Gostei tanto de ver a Laura. Que seja feliz, hoje e sempre.