Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Dei por mim a fumar um cigarro apagado a meio da noite.
Havia palavras soltas por todos os lados, lembranças que ficaram perdidas algures no meu sótão. Um copo vazio, cheio de lágrimas secas pelo tempo.
Saudades daqui, deste recanto que já teve tantos nomes, tantos rostos. Sobre a avenida assim ficou, parado nas horas que correm apressadas. Pobre sótão, o sossego tornou-se tão maior.
Tantas foram as danças em silêncio que se perpetuaram neste lugar, a minha alma perdeu o seu calor.
A Ametista permanece. Continua deitada sobre as ondas de papel em branco, adormecidas num sono frágil e prolongado. As letras escorreram por entre os dedos pálidos, sem caneta.
É urgente voltar. É urgente ficar. Para sempre. Aqui (re) nasci, aqui vivi, aqui fui feliz. Aqui quero ficar.
Não. Não esqueço. Como poderia esquecer? Momentos únicos, genuínos, sem maldade, com sorrisos e vontade de viver. De tocar aquela felicidade que existia e já não se encontra. Como poderia esquecer-me, como poderia esquecer-te? De ti, de mim, de nós...
Esta música é-nos dedicada e a tudo o que vivemos juntos. A vida separou-nos, aquela que, na sua injustiça, amaldiçoa os corações maiores. Mas jamais apagará as memórias que ficaram.
Ainda gosto de ti, sabes? Muito.
Vou, então, deixar-te o que ficou por dizer por diversas, imensas vezes. Demasiadas até.
Depois, veio o silêncio.
Gosto que me chames pelo nome
(imagem retirada de: google imagens sem referenciação de autor)
Esperei-te na despedida do nosso último Verão, o Outono tinha chegado antes de tempo, mas tu não vieste. As gaivotas gritaram em sinal de tempestade, o mar cantou com elas elevando as suas ondas, bem ao alto, e todos fugiram menos eu.
Continuei a esperar-te enquanto lia a carta que deixaste à beira mar junto à guitarra que sempre tocaste, tão melodiosas as tuas rumbas flamencas, nela estava marcado o teu último adeus.
Não quero acordar, tenho medo de não voltar a sonhar contigo, afinal só te vejo quando durmo e consigo ouvir-te chamar pelo meu nome. Gosto que me chames pelo nome, gosto que me olhes no silêncio que vem depois, quando entras nas minhas fantasias. Mesmo que não sintas o que quero, há uma história que se inventa e eu descubro. Vem mais vezes assim, em ilusão, vem para me amar mesmo que esse amor seja mentira, mesmo que se apague ao despertar. Gosto que me chames pelo nome. Assim acredito que estás perto, mesmo que a preto e branco nas sombras da utopia.
Os cálices estão cheios e espalham-se pelos atalhos do meu sonho, esperam pela marca dos nossos dedos, estão sedentos pelos lábios que secaram na ausência. São tantos os brindes à nossa história que nos esperam, são tantas as promessas. Há garrafas que guardámos para momentos especiais, quem dera darmos as mãos nas madrugadas a chorar, embebermo-nos em palavras por versejar. Consigo ouvir a tua voz sussurrar-me ao ouvido 'gosto do cheiro da tua pele' e depois? Depois, roubas-me em eco um beijo eterno.
Não sei se consigo sobreviver nas alvoradas, os sonhos não se realizam, tu sabes, mas desperto de uma quimera que se repete a cada noite e tu não estás, nunca estiveste, nunca estarás. Maldito amor que não existe, terrível destino incontornável, declarou-se na ruína das palavras. Levem-me daqui antes que sequem as águas do meu mar.
Ainda hoje espero por ti na despedida e chamo-te pelo nome, mas tu não me ouves nem sequer sabes que existo e eu parto para outro lugar onde não estejas, adormeço desta vez na ânsia de esquecer-te mas volto a sonhar. Contigo, sempre contigo a surgires sem aviso do nosso último Verão e a chamares-me pelo nome. Gosto que me chames pelo nome.
Não quero acordar, quero sonhar para viver-te mesmo que incompleto e deixar-me ir nesta magia. Depois podes ir e não voltar.
escrito em 25 de Setembro de 2015 e depois alterado
Do Amor dela por ele
(imagem retirada de: google imagens sem referenciação de autor)
Amo-te. Não desde o primeiro dia em que te vi, mas desde o momento em que me sorriste. Eras tão bonito.
Sim, amo-te. Talvez por seres a minha melhor recordação, a minha mais doce memória. Tenho saudades tuas. E agora, que faço com a saudade? Amarroto-a como a um pedaço de papel, deito-a ao vento, arranco-a de mim? Ensinas-me como se faz? Ou confesso-me a ti e digo que ainda te amo depois de tantos anos? Eu sei que um dia vai passar, eu sei, mas fazes-me falta nas tuas gargalhadas. Faltam-me as tuas mãos para dar, o teu beijo oferecido com verdade e o abraço que me tirava os pés do chão.
Um dia perguntei-te se dançavas comigo e tu disseste que não sabias. Nunca tiveste jeito para dançar, trocavas os passos, lembras-te? Mas, mesmo assim, dançámos num tropeço e nada mais importou. Podia ter morrido de amor nessa dança. Fomos tão felizes.
Queres envelhecer comigo? Seria bom que pudéssemos escolher com quem ficar e essa escolha fosse recíproca. Escolhia-te a ti para partilhar o que ficou do nosso intervalo.
Sonhar alto é sonhar-te. E eu sonho-te tanto. Espero por ti ou encontramo-nos para lá das estrelas, um dia, quando formos alma?
Nao estou a olhar para o pablo nem para a letra da música, mas para o espaço, a sala. A música e o corpo a dançarem juntos. E a alma a dançar com eles, com a música, com o corpo, com tudo.
E os sapatos. Os sapatos de pontas que me fariam dançar e, neles, ser feliz.
Estou aqui, sentada frente a um écran que outrora não fazia parte da minha vida e onde agora ficam expressas as minhas divagações, para quem as quiser ler.
Lembro-me que escrevia em folhas de papel timbrado ou nas sebentas da escola, umas vezes com lápis outras com esferográfica. Podia ser azul, preta ou encarnada, o importante era que escrevesse e assim nasciam as letras. E eu escrevia, escrevia sem parar, o meu pensamento flutuava em cada lugar que estivesse, tudo eram palavras que irrompiam e iam ficando desenhadas em rascunhos.
Ainda hoje guardo todas as folhas em que deixei escritos devaneios e desabafos, estão hoje amarelecidas como as antiguidades que se guardam num sótão qualquer, empalidecidas como o tempo vai deixando as nossas vidas.
Acendo um cigarro, eu não queria fumar aqui, mas o frio está cortante na minha varanda com vista sobre a cidade e dentro de casa há um aconchego que me prende, mesmo que amarelecidas fiquem as paredes deste recanto onde a música não pára de tocar e o relógio suspenso se repete no seu compasso apressado.
Recordo o tempo em que escrevia até amanhecer, adormecia quando a vida começava lá fora e a agitação das ruas era a minha tranquilidade. Refugiava-me no conforto dos lençóis e ia acordando, ora com a chuva a cair nas pedras da calçada ora com raios de um sol caloroso, enquanto as palavras surgiam subitamente no meu pensamento e me levantava para deixá-las escritas, não fosse eu esquecê-las durante o sono, sentir a minha imaginação em branco ao acordar.
Vivia entre palavras e pinceladas. Palavras que se soltavam ao palpitar da alma e pinceladas que deixava em cada tela, com cores, muitas cores, aquelas com que quis tingir a minha vida. E assim soltava os meus fantasmas, amava por entre as lágrimas que escorriam sobre as letras que fazia despertar, amava a cada palavra que se erguia dos trechos que ia construindo. Amava a cada misto de cores que colocava na tela e a cada nascer de cenários abstractos e paisagens, aquelas que inventava. 'Assim posso chorar porque ninguém vê, ninguém sabe quem sou', pensava eu.
Tudo eram histórias de amor, essa palavra repetida que deixava rastejar pelo papel, sempre marcada no topo de cada folha em branco, chorada em cada virar de página, gravada em cada tela pincelada. Mas o vento foi mudando de rumo a cada instante dos meus dias e, hoje e agora, eu já não quero escrever histórias de amor.
Quero continuar a escrever, a escrever sem parar todas as horas da minha existência, mas histórias onde o amor é palavra proibida e a dor não pode entrar. Quero continuar a sonhar, mas com um sorriso, por entre as gotas de tinta de uma caneta quase extinta, como que num fogo apagado pela coragem de quem arrisca o destino por cada sopro de vida, cada coração que não pode parar de bater, mas sem descrever uma única história de amor.
Quero perder-me no reino da essência das coisas, sentar-me no seio da beleza que cai em redor das cidades e parar no tempo. Deitar-me na areia de uma praia qualquer e implorar à linha do horizonte que o céu e o mar se beijem a cada pôr de sol. Quero adormecer submersa e, através das águas cálidas de um oceano sereno, ver o céu tornar-se azul a cada alvorada. Quero alcançar as estrelas como nas histórias que escrevi, transformar-me em pássaro, ter asas púrpura de veludo, rosto de lobo, alma cigana, coração de aço e subir à nuvem mais branca e doce.
Quero permanecer assim, como sempre fui. Rebelde, sempre rebelde, com sede de liberdade, com urgência de soltar o grito escondido que trago bem preso no ventre, mas sem chamar pelo amor nas minhas preces. Quero continuar com esta vontade de lutar e vencer ou sair vencida, mas lutar sempre e até sempre. Ser eu, sem medo de demonstrar quem fui, quem sou, o que sei e o que não sei, quem gostaria de ser. Simplesmente genuína, a transbordar de um desejo desmedido de dançar sobre as páginas do livro de histórias que escrevi, tocar o céu e beijar a lua, esconder-me no seu colo.
Tudo em mim é imensurável. O meu amor às letras, a minha rebeldia para deixar falar mais alto a minha alma, a minha força para gritar no silêncio das palavras até me doerem os dedos. É imensamente grande a minha vontade de abraçar todos os livros de poesia, aqueles que dormem na biblioteca do jardim da avenida onde, há muito tempo atrás, arrumei nas prateleiras para descansarem do desfolhar sôfrego em dias de correria. A minha sede de devorá-los com as mãos e com os olhos é tão maior, é uma ânsia que me arrepia a pele do tanto que quero ler e conhecer, do tanto que quero saber sobre os poetas que esquecem o mundo por amor às palavras e deixam no papel, cantadas em verso, as mais belas histórias nunca antes lidas.
E é imensurável, oh se é, a minha capacidade para sonhar acordada e acreditar, para depois desacreditar. É assim que sou. Mas já não quero histórias de amor.
Volto à varanda com vista sobre a cidade, quebrou-se o frio das madrugadas, observo as luzes que se acendem no ocaso e admiro a beleza que brota do esplendor que emanam depois do crepúsculo. Avisto silhuetas ao longe que passeiam, carros que circulam devagar num silêncio apagado pelo canto de uma cigarra que surge como numa noite quente.
Eu quero escrever cada momento, quero escrever sem parar. Conseguir descrever na perfeição o suspiro de um coração liberto e o brilho de um olhar que agradece o privilégio do despertar a cada manhã. Quero descrever em pormenor o momento em que o sol entra na minha vida para me abraçar, qual alma vazia que se preenche ao esquecer a palavra amar.
Fui deixando escritos, ao longo dos tempos, sentimentos de alma, esboços de uma vida, aqueles que se choram e deixam saudade. Histórias, memórias, momentos, sonhos que foram ficando guardados, uns num baú de memórias envoltos num laço de cordel, outros nas páginas do meu Danças em Silêncio, espero que para sempre.
Mas já não quero escrever mais histórias de (des)amor.
Há silêncios necessários mas que esmagam devagar. Para apaziguarem a minh' alma...? As árvores do jardim e o curso vagaroso das águas do rio da minha cidade.
Esperei-te na despedida do nosso último Verão, o Outono tinha chegado antes de tempo, mas tu não vieste. As gaivotas gritaram em sinal de tempestade, o mar cantou com elas elevando as suas ondas, bem ao alto, e todos fugiram menos eu.
Continuei a esperar-te enquanto lia a carta que deixaste à beira mar junto à guitarra que sempre tocaste, tão melodiosas as tuas rumbas flamencas, nela estava marcado o teu último adeus.
Não quero acordar, tenho medo de não voltar a sonhar contigo, afinal só te vejo quando durmo e consigo ouvir-te chamar pelo meu nome. Gosto que me chames pelo nome, gosto que me olhes no silêncio que vem depois, quando entras nas minhas fantasias. Mesmo que não sintas o que quero, há uma história que se inventa e eu descubro. Vem mais vezes assim, em ilusão, vem para me amar mesmo que esse amor seja mentira, mesmo que se apague ao despertar. Gosto que me chames pelo nome. Assim acredito que estás perto, mesmo que a preto e branco nas sombras da utopia.
Os cálices estão cheios e espalham-se pelos atalhos do meu sonho, esperam pela marca dos nossos dedos, estão sedentos pelos lábios que secaram na ausência. São tantos os brindes à nossa história que nos esperam, são tantas as promessas. Há garrafas que guardámos para momentos especiais, quem dera darmos as mãos nas madrugadas a chorar, embebermo-nos em palavras por versejar. Consigo ouvir a tua voz sussurrar-me ao ouvido 'gosto do cheiro da tua pele' e depois? Depois, roubas-me em eco um beijo eterno.
Não sei se consigo sobreviver nas alvoradas, os sonhos não se realizam, tu sabes, mas desperto de uma quimera que se repete a cada noite e tu não estás, nunca estiveste, nunca estarás. Maldito amor que não existe, terrível destino incontornável, declarou-se na ruína das palavras. Levem-me daqui antes que sequem as águas do meu mar.
Ainda hoje espero por ti na despedida e chamo-te pelo nome, mas tu não me ouves nem sequer sabes que existo e eu parto para outro lugar onde não estejas, adormeço desta vez na ânsia de esquecer-te mas volto a sonhar. Contigo, sempre contigo a surgires sem aviso do nosso último Verão e a chamares-me pelo nome. Gosto que me chames pelo nome.
Não quero acordar, quero sonhar para viver-te mesmo que incompleto e deixar-me ir nesta magia. Depois podes ir e não voltar.
escrito em 25 de Setembro de 2015 e agora alterado
Há dez anos atrás, aquando do meu primeiro blog, escrevi um pensamento e dediquei-o a todos os meus visitantes.
Deixo-vos, assim, o desejo que tenho vindo a demonstrar em palavras. Para além de ser dirigido aos que me lêem, é dedicado a todos os que não podem ter um Natal melhor.
Sinto-me assim. Com frio e excessivamente pensativa. Os dias gélidos voltaram, em substituição da Primavera que se antecipou em pleno Inverno. Voltas trocadas. O tempo também está virado do avesso, tal como o mundo inteiro. Já não há segurança em lado nenhum do planeta, tudo pode acontecer em qualquer lugar. As perspectivas de um futuro risonho são nulas e a esperança de dias melhores vai diminuindo. Está tudo por um fio e eu sinto-me assim, sem confiança. No entanto, tenho a noção de que há quem esteja bem pior.
Este frio entranha-se em mim e deixa-me sem sentido de orientação. Sinto-me perdida num turbilhão de emoções difíceis de conter. À medida que me afasto do meu próprio mundo, qual bicho do mato, perco a procura dos outros por mim e isolo-me ainda mais. Deve ser da idade, ou da falta de confiança. Sinto o céu desabar sobre a minha cabeça como uma teenager inconsciente. Quem dera sê-lo. Era bem mais feliz, mesmo nas consequências das minhas (in)felizes inconsciências. Fazia parte. Mas também posso dizer que nunca prejudiquei quem quer que fosse a não ser a mim mesma e isso ajudou-me a crescer. Quem dera que não tivesse acontecido.
Porque há algo que permanece. O meu espírito infantil e a ausência da vergonha em dizê-lo. Também queria afirmar a minha expectativa num futuro sorridente mas ficou lá no passado, parada no tempo.