Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. Leonor Teixeira, a Ametista
Dei por mim a fumar um cigarro apagado a meio da noite.
Havia palavras soltas por todos os lados, lembranças que ficaram perdidas algures no meu sótão. Um copo vazio, cheio de lágrimas secas pelo tempo.
Saudades daqui, deste recanto que já teve tantos nomes, tantos rostos. Sobre a avenida assim ficou, parado nas horas que correm apressadas. Pobre sótão, o sossego tornou-se tão maior.
Tantas foram as danças em silêncio que se perpetuaram neste lugar, a minha alma perdeu o seu calor.
A Ametista permanece. Continua deitada sobre as ondas de papel em branco, adormecidas num sono frágil e prolongado. As letras escorreram por entre os dedos pálidos, sem caneta.
É urgente voltar. É urgente ficar. Para sempre. Aqui (re) nasci, aqui vivi, aqui fui feliz. Aqui quero ficar.
Ainda ando por cá. Meio escondida e/ou desaparecida, meio desmotivada talvez, mas a blogosfera será sempre o meu mundo desde 2007. O mundo das letras fará sempre parte de mim, da minha alma. Até pedaços fotográficos. E pintura. Como eu gostava de pintar.
Há quase 15 anos, portanto, que este blog existe. Já mudou de nome tantas vezes, até de endereço, mas nunca deixou de existir.
Também tenho de vos visitar, a vós, que sempre estiveram presentes e por cá continuam. Espero que sejam tão felizes tal como eu fui durante anos.
Desculpa se foste para uma família melhor. Tenho medo de não te esquecer, eras a minha outra metade, o meu guarda, meu fiel companheiro. Mas deixei-te por um lugar que te fizesse mais feliz. Aqui, sentia-te triste e revoltado. Por muito amor que te desse, não era o suficiente, não tinhas a liberdade que merecias.
Continuo a amar-te e a imaginar-te, lindo e traquina, a brincar com as bolinhas e o osso que tu tanto adoravas e a enroscares-te, de noite, nas tuas alcofas e almofadas que tanto te aconchegavam. Não houve uma noite que não me levantasse para tapar-te com as mantinhas que mordias nos fins de tarde. Eras tão friorento.
Lembras-te das nossas brincadeiras? Aquelas escadas têm tanto para contar. Parecias um cavalinho a rodopiar nas tuas danças com os teus brinquedos no terraço. E na cozinha? Recordas-te? Estavas sempre comigo e, às refeições, pedias-me bocadinhos de maçã que tanto ansiavas. E pão. Gostavas tanto de pão. De manhã, presenteava-te sempre com os teus biscoitos, meu guloso.
Na sala, eras o destruidor de almofadas mas dormias tantas vezes aos meus pés. Querias explorar a casa toda, mas fazias tantos disparates. Corrias sem parar, se conseguisses escapar-te para sítios proibidos, e eram tantas as tuas travessuras.
Tinhas tudo, mas faltava-te tanto. Amigos para brincar, sítios novos para conhecer, outros cheiros para sentir, terra inacabável para correres sem parar. Eu tinha de deixar-te ir.
Sabes que a minha saúde me trai, por vezes, e se me acontecesse alguma coisa quem iria tomar conta de ti? Só quis o teu bem, meu querido. Dói tanto viver sem ti.
Por vezes encontro pêlos teus, um aqui outro ali, e lembro-me o quanto te abraçava quando saltavas para o meu colo para veres a cidade e, quando me sentias triste, envolvias as tuas patinhas em redor do meu pescoço e beijavas-me sem parar. O teu olhar era transparente e acalentavas a minha alma com a tua doçura. No outro dia encontrei, por acaso, coisinhas tuas e o meu coração encolheu-se, apertado. Quando chegaste aqui eras tão pequenino. Cresceste tanto, ficaste grande e robusto. És tão bonito.
Sei que estás bem, espero que me esqueças para não sofreres. Estás com pessoas que te amam desde o primeiro momento em que te viram e com quem foste, sem olhares para trás. Para sempre.
A tua nova dona disse-me para ir visitar-te em breve, mas tive medo. Tenho medo. Medo de ver-te, de correr para ti, abraçar-te e não conseguir largar-te. E tenho medo por ti. Medo que te lembres de mim e fiques triste.
Recordo-te a cada dia, a cada hora, a cada momento. Ainda há pedaços de ti por este chão, memórias infindáveis que me corroem por dentro. Fotografias, vídeos, lembranças. Deixaste um vazio que me despedaça a alma. Choro todos os dias. Fazes-me tanta falta, meu querido.
Foste tão amado. Mas o importante é que sejas feliz, o resto não importa. E não te abandonei, juro que não te abandonei. Simplesmente consegui uma família completa para ti. Nós éramos apenas tu e eu. Agora, és tu e muitos mais. Mudaram-te o nome, agora és o Salvador, porque salvaste alguém que perdeu um cãozinho de uma vida e esperava por ti sem saber que serias tu. Não há dia nem noite que não te peça desculpa. Sei que não me ouves, mas talvez saibas o que sinto.
Meu querido Eddie, a minha saudade é infindável. Sem ti, morreu uma parte de mim, ficou um vazio que não consigo preencher. Quem sabe um dia, mais tarde, bem mais tarde, não nos encontraremos e damos um abracinho apertado? Sei onde moras e quando a dor e o tempo passarem, irei visitar -te.
Até lá e apesar de ausente, amar-te-ei. Amar-te-ei sempre. Porque tu, meu querido, eras a minha luz ao fundo do túnel, o meu puro amor.
Apagou-se a luz, o meu coração está pela metade, a minha alma está vazia. Espero que me perdoes. Até um dia qualquer, meu amor.
Há nove anos atrás pedi que voltasses depressa para nós:
Perdeste-te nos dias e ficaste do outro lado da vida. Não sei se voltas.
Fico deste lado entre lágrimas e sorrisos. São lembranças dos tempos de outrora que não se repetem. Passam os anos, separam-se as gentes da terra que nos viu crescer.
Onde ficámos nós? Afectos conquistados, laços construídos, momentos partilhados deixados para trás. Abro o álbum de fotografias e sinto uma angústia quase insuportável. As lágrimas caem e a alma dói. São vidas separadas por um destino incerto, viagens marcadas para lugares diferentes.
E choro. Choro por ti e por quem te guarda no coração. Choro, porque não consigo alcançar um sinal de esperança. E morrem os dias na agonia de nada poder fazer.
Tens de voltar, tens de viver. Há tanto que ainda tens por sonhar.
Espero o teu regresso, acendo uma vela e rezo por ti. Nas minhas preces reclamo o teu nome, imploro a tua vida.
Mas não regressaste, ficaste no intervalo, e hoje foi o dia do último adeus. Voltaram as memórias e são tantas, tantas, tantas. Vou guardá-las junto à saudade.
Se eu pudesse parar o tempo pararia num dia primaveril soalheiro, onde os sorrisos de família entravam pelo alpendre com o chilrear dos pássaros nas manhãs e o cheiro a flor de laranjeira.
Se eu pudesse voltar atrás, bem lá longe nos anos, voltaria num fim de tarde de Verão para buscar as alegrias de criança na roupa suja acabada de brincar.
Se eu pudesse, ai se eu pudesse voltaria aos dias de teatro nos quintais, às partidas no sótão cor de rosa e às escondidas no olival para lá dos canteiros.
Estive a fazer um 'rewind' das últimas semanas (ou das últimas décadas) e pensei: Atingi a felicidade na sua plenitude. Concretizei um sonho que pensava inatingível. Mas há algo que me detém. É a saudade imensa de estar perto de quem fez e faz parte da minha vida, de quem entrou e permaneceu, de quem chegou e saiu de rompante dos meus dias e, essencialmente, de quem precisa de agarrá-la - a vida - com todas as suas forças. A ausência e a distância são terríveis, se bem que colmatadas por gestos de carinho e palavras de apreço que surgem docemente. Há pessoas que estão na minha alma e sempre estarão. Como eu costumo dizer: sempre e até sempre. Penso que sabem quem são.
P.S. Hoje há uma sensibilidade desmedida a morar dentro de mim.
Às vezes, lembro-me de ti. Minto. Não só às vezes, mas muitas vezes, tantas, quase sempre.
Lembro, se me lembro. Passavas todas as noites à porta de casa da minha mãe, embrulhado num sobretudo preto que contrastava com a palidez da tua pele e fazia sobressair uns lábios sorridentes do teu rosto meio coberto por uns caracóis negros.
Conhecemo-nos numa daquelas noites frias de Outono, no lugar onde costumávamos ir beber café e lá estavas tu, vestido de preto no teu caminhar sereno como serena era a tua figura. Cruzámo-nos por entre os passos que íamos dando lentamente, o nosso olhar tocou-se com embaraço e sorrimos numa ingenuidade aparente, revelando os nossos nomes um ao outro.
Víamo-nos sempre, casualmente, no mesmo sítio e nas mesmas noites de fim de semana, por volta da mesma hora. Sem encontro marcado, lá estava eu no bar e tu aparecias alegre, sempre alegre, pelo meio das gentes que riam e conversavam descontraidamente.
E surgia o abraço. Era inevitável. Sempre o abraço, o mesmo de todas as vezes, longo e apertado por entre beijos na testa, muitos beijos. Nos teus braços, sentia-me tão pequenina e confortada.
Lembro-me de nos perdermos nas palavras até ao amanhecer, sentados lado a lado nas escadas do beco junto à entrada do bar, unidos por gestos de cumplicidade. Partilhámos momentos, sentimentos, falámos das nossas perdas e das nossas conquistas, rimos e chorámos juntos.
Uma noite, levaste-me a casa da tua mãe. Era tarde, fomos pelo quintal, abriste a porta das traseiras e quando entrei fechei os olhos com força, absorvi o aroma que rastejava pelos móveis e pelas paredes e exclamei num sorriso: cheira à casa da minha mãe.
Sentados na tua sala, frente a frente, debatemos o mistério da vida e a nossa crença no destino. Entrámos no mundo das adivinhas, discutimos existências anteriores, contaste-me as experiências que viveste com o teu baralho de tarô, aquele que um dia acabaste por me oferecer. Tenho-o guardado no baú das minhas melhores memórias, permanece dentro da caixinha de cartão reciclado. Sabes? A caixinha tem o mesmo cheiro daquela noite em que a trouxeste escondida na mão, atrás das costas, para me dares como prenda de aniversário. E o bilhete, o que me deixaste, permanece de lacre aberto sobre as cartas que um dia foram tuas.
Lembras-te da história dos cigarros no teu cinzeiro e do segredo em seu redor? Nunca poderia contar aqui essa história, é tão nossa que ninguém pode saber, ninguém pode escutar.
Quase nos perdemos na palavra amar mas venceu a amizade que conseguimos solidificar e, como me disseste um dia, nunca poderíamos ser amantes porque o nosso encontro aconteceu em época incerta. Se tivesse sido um pouco antes ou um tanto depois, teríamos ficado juntos para sempre. Acredito que sim, se acredito.
Depois da nossa despedida na festa do vale, em que assistimos ao nascer do sol e dançámos até o sono chegar, não voltámos a ver-nos até hoje. Partiste para a cidade do amor e nunca mais voltaste. Tornámos a falar após alguns anos, depois de termos perdido o contacto por infortúnio do destino.
Mas as nossas conversas à distancia ajudaram-nos a recuperar os anos que ficaram para trás. Esquecemo-nos dos relógios, chegámos a falar horas a fio, mais pareciam confissões de dois adolescentes que mantêm a cumplicidade, extrema e inabalável. Houve alturas em que parecíamos dois verdadeiros poetas, as palavras saíam-nos em verso e as declarações de saudade transformavam-se num autêntico poema. As tuas confissões alojaram-se na minha alma e ergueram-se num eco que, de quando em vez, vai e vem: se passei noites contigo foi porque te escolhi, contigo saboreio as palavras e os sentidos e dá-me vontade de guardar-te no colo. Encontramo-nos na praia?, dizíamos a cada despedida como se o destino nos levasse a outra vida e o nosso adormecer fosse um ponto de partida para um encontro apenas meu e teu. Como tu próprio pediste, entre a areia e o mar.
Encontrei-te na outra noite, trazias contigo aquele sorriso de criança e o olhar cândido que me fez prender a ti um dia. Não mudaste, continuas com esse teu ar de miúdo traquina, não consegui resistir a dizer-te que não envelheceste nem um pouco.
Ao olhar através do verde escuro dos teus olhos, vieram-me à lembrança recordações de nós, viajei nas melhores memórias que vivemos, embalei no tempo dos abraços e das mãos que se deram na mais bela história de um amor que não se repete.
Fomos felizes no tempo que foi nosso, arrecadámos para sempre as nossas horas que fizeram parar todos os relógios e nos deixaram ser nós mesmos. Deixámos guardadas na palma da mão as gotas da água cristalina dos rios derramados a nossos pés e elas não escorreram por entre os dedos, lembras-te? Ainda sinto na pele o aroma das marés que descobrimos, as correrias contra a demora nas areias, os passeios da sede de viver que saciámos no nosso deserto que, de ermo, se fez jardim.
Na outra noite revivi e renasci, atravessei o nosso mundo uma vez mais, encontrei-me ao encontrar-te a ti, abracei a árvore que plantámos e onde ficaram escritos os nossos nomes. Nem os anos, nem o sol e a chuva os abalou, ainda sinto os beijos que nós demos e, no momento em que te lembro, consigo vê-los baloiçar sob os ramos.
Quis repetir o que ficou para trás, abri o baú das nossas vidas e dancei contigo na urgência de te ter e foi tanto o quanto te quis que escutei, por entre lágrimas e sorrisos de saudade, os solos de guitarra que só tu sabes tocar. Fui buscar os segredos que ficaram presos à raiz da nossa história, percorri as viagens que fizemos de aventura às costas, passei nas estações de comboio onde parámos de corpos a cheirar a liberdade, sustive-me nos lugares onde ficámos perdidos na nossa essência de amar.
E ondulei na pele do teu rosto, senti os teus lábios nos meus cabelos, a nossa respiração tocou-se por entre a luz e a sombra das noites e fomos nós. E voltei a amar-te como nunca mais amei ninguém.
E eu quis que o tempo fosse todo nosso, quis tanto que parasse ao murmúrio da nossa voz e ao eco do silêncio dos sorrisos que são só meus e teus e quis, avidamente, que o mundo se calasse ao nosso abraço.
Sei que não me lês, sei que não entras no meu espaço.
Por isso confesso que não te esqueci, amor da minha vida presente.
Declaro aqui, neste meu mundo, que és tu que existes em cada momento imaginário do meu dia a dia.
Às vezes, vejo-te passar. Finjo que ignoro a tua presença, finjo que me és indiferente, mas és tu quem faz parte dos meus sonhos.
Sei que o tempo vai passar e nada vai mudar. Sabes, meu amor, bastava-me aquela conversa que nunca tivemos e sinto que jamais teremos. Mas as palavras permanecem guardadas num cantinho de mim, à espera do momento em que possa proferi-las.
Embarquei no rio das lágrimas que derramei por ti e naveguei na imensidão do sentimento que te sustenho. Desaguei na ternura que me agarra a ti e naufraguei na perda deste amor ausente.
Podia cair uma estrela, que eu estaria aqui para contigo poder abraçá-la. Podia abater o sol, que eu estaria aqui para contigo sentir o seu ardor. Podia ruir a terra, que eu estaria aqui para contigo construir um mundo novo. Podia acabar tudo o que existe que eu estaria aqui, à tua espera.
Nunca saberás o meu verdadeiro sentimento, aquele que nutro por ti. Resta-me esperar que o tempo permita que me liberte de ti, um dia.
Mais ninguém conseguirá preencher o lugar que te pertence.