Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. L.T.
Às vezes, de noite, subo ao telhado do sótão, sento-me a ver as luzes da cidade e o frenesim do fim dos dias e penso que gostava de ficar ali para sempre. O meu sótão é cor de rosa. L.T.
Vou estar ausente por uns dias. Apesar do sol querer esconder-se nestes dias que se aproximam, o destino escolhido foi esta praia que amo e me traz saudade. Preciso respirar o mar, sentir os pés na areia e absorver aquele cheirinho do iodo que me acalenta a alma.
E nada melhor do que ter a companhia da mana nesta deliciosa viagem.
Desejo que a Páscoa vos traga muitas amêndoas doces. Os meus amigos mais queridos vão comigo no coração...
Desperto de uma vida sem sentido e saio. Há esperanças e enganos que se chocam. Tenho de ir. Levo comigo uma vontade incessante de agarrar aquela estrela, senti-la com a força que trago cá dentro.
Perco-me na urgência de partir e embarco numa viagem alucinante dos sentidos. Percorro caminhos a uma velocidade sem limites e respiro o aroma que me leva até ao mais ínfimo dos lugares. Há estradas sem fim. Viajo sem rumo, vou até ao desconhecido e alcanço o que tenho por descobrir. Paro num lugar sereno e saboreio cada momento doce. Seguro nas minhas mãos aquele pedaço de estrela que se aproxima lentamente. Guardo na minha alma o silêncio que chega até mim delicadamente. Sinto uma luz que toca o meu corpo frágil. É tudo tão suave.
Deixo-me ir nessa viagem sem direcção. Sinto-me transportar para um mundo que se depara tão perto de mim. Afasto-me do que não quero e fico mais próxima do que preciso perdidamente. Quero ir e não paro. Vou e não volto. Caminho lado a lado com as cores do arco-íris. Ergo os braços, grito num suspiro eterno e contemplo a essência da vida.
Acordo e sinto-me vaguear. Olho os retratos espalhados pela casa. Há um sorriso em cada um deles. Deixo-me ficar.
Trago na palma da mão um bilhete de regresso ao meu passado.
Entro no comboio vindo do outro lado da vida, fecho os olhos e viajo através dos tempos. Percorro a alegria da minha infância, a rebeldia da minha adolescência, a turbulência da minha (i)maturidade.
Vou ao encontro de um baú de memórias guardadas, escondido junto à árvore que assinala o meu percurso, na estrada que me foi estendida para caminhar. Em volta, um prado coberto de esperança onde plantei abraços e ternuras. Converso com a árvore que se mantém de pé. Tem nomes marcados que ficaram para sempre.
Desenterro os meus segredos e faço deles uma festa. Chamo pelos meus fantasmas e envolvo-me com eles num baile mágico. Acendemos uma fogueira, damos as mãos e juntos cultivamos raízes de afecto.
Revivo os sorrisos de quem me deu à luz, de quem se uniu a mim em laços de sangue, de quem cresceu comigo lado a lado. Sentados no campo, abrimos o álbum de recordações num gesto de saudade.
Reencontro os rostos das crianças com quem brinquei. Repetimos tudo numa roda viva ao sabor de risos e gargalhadas.
Revejo quem me fez sorrir, quem ouviu a minha voz, quem me deixou chorar e ajudou a secar as minhas lágrimas. Deitamo-nos por entre as flores campestres e libertamos beijos de carinho.
Volto a encontrar os amores que vivi, os amigos que conquistei e os que perdi. Sorrio para eles e eles para mim.
Tropeço em quem um dia me agarrou na mão, leu o meu destino e me deixou escapar. Fico parada a admirar esse alguém, enquanto me lê as linhas marcadas na palma da mão que lhe estendo.
Relembro o que me amedrontou e o que me fez vencer o medo. Vou ao encontro dos momentos em que fui eu e dos que me fizeram ser quem sou.
O prado gira vestido de branco e eu rodopio com ele ao som da música que toca sem parar. Poiso nos lábios a rosa que alguém me deixou, seca pelo tempo, guardada no baloiço onde ensaiei aquela dança. Ouço os aplausos ao bailado que foi meu também.
E a árvore mantém-se de pé. Solto murmúrios e deixo-lhe um beijo.
Entro no comboio vindo do lado de cá da vida, espreito pela vidraça que separa o hoje do ontem e espero pela chegada ao meu destino. Enquanto embalo nesta jornada de regresso ao presente, declaro ao meu passado que fui feliz nesta viagem. Porque foi a minha viagem. Um bilhete de ida e volta que guardo na minha mão.